Escrevi o texto abaixo a muitos anos e em 2008 coloquei no meu Livro "A travessia de uma mulher"
Hoje peguei um livro do José Saramago que começa assim:
“Um homem foi bater à porta do rei e disse-lhe, Dá-me um barco...”Ele é tão pedante que acaba por ganhar o barco.Todos os dias que acordo me vejo no mesmo dilema. Eu quero um barco. Mas não basta somente um barco. Quero levantar os panos e sumir por meio de tempestades, calmarias e descobrir ilhas desconhecidas. Que apesar de existirem em mapas, são lugares distantes para serem conhecidos.Talvez seja egoísta, pois quero uma viagem só minha.Ai me questionam.È auto afirmação?Queres provar o que para quem?Ai me olho no espelho. O tempo não para. Mas há beleza. Os olhos ainda tem brilho, não há rugas apesar da idade e do sol. Mas falta o sorriso da realização.Será que é prepotência, arrogância querer ser feliz. Pensar diferente, sonhar diferente.Eu sinto que minha química se altera quando estou em conjunção com meu mundo.O tempo não para e sei que não tenho muito tempo.Todos dizem: Você tem todo o tempo do mundo. É só ter calma.Ai acordo cedo, vou ao trabalho e mais um dia se passa, e outro e outro. No fim de alguns meses as moedas não chegam. A matemática não bate. E dois mais não são quatro. É muito menos.É o café, o almoço e o jantar...É o remédio para curar as doenças da ansiedade...É o vestido para ser ver bela no reflexo dos olhos do amado...É o convívio...Para que rei eu peço um barco?Caminho pela Marina vejo muitos barcos ancorados que nunca saberão o que é navegar. Foram construídos para tal, mas seu destino os poupou das aventuras.Para que rei eu peço um barco?Caminho pela estrada a beira da linha de trem. O comboio passa rápido. O vento é forte, mas não tão forte para me livrar das minhas frustrações.Para que rei eu peço um barco?Na minha loucura me dou conta que não há rei.E no reflexo do Rio Tejo vejo meu rosto. As rugas já aparecem, a beleza me foge, o tempo não para. Passa.